sábado, 5 de março de 2016

Minha relação com o Florestal - de aluno a diretor


Instituto Florestal Batista
O prédio do Instituto Florestal Batista era, para uma criança que vinha de uma fazenda, como eu, o mais imponente que já conhecera. Um grande salão com três salas de cada lado cuja entrada ostentava uma grande escadaria. Do lado direito, uma quadra. Do outro, a casa onde morava a diretora, casa que não existe mais.

A ladeira que conduzia ao prédio era alta e constituída por um barro vermelho que aderia aos nossos sapatos, formando um bolo de alguns centímetros de espessura. Na entrada um limpador feito de tampilhas de garrafas pregadas numa tábua, para eliminar o grosso do barro.

ORIGEM DO FLORESTAL

Os filhos do senhor Sinfrônio Rodrigues de Matos afirmam que uma escola existiu, antes, na fazenda de seu pai. Dona Anatotita Matos (Totinha) diz que teve vida efêmera. Ela calcula que não durou mais que um ano.


Jaqueira que ficava ao lado da Escola Florestal
A Profª Sisínia Vieira Matos, filha de Bernardino Rodrigues de Matos, disse em entrevista a Fernando Matos, que essa escola funcionou em 1928 e o professor era o senhor Lulu que, segundo ela, maltratava muito os alunos. Discordando dos métodos do Prof. Lulu, Bernardino resolve se mudar para Poções em 1929, a fim de colocar os filhos na escola. Percebendo que ia ser difícil ter sua fazenda nas matas do rio do Vigário e a família em Poções, Bernardino consegue uma professora que aceitou vir para sua propriedade, de nome Fazenda Floresta, onde foi aberta uma escola. É essa escola, que, pela entrevista da Profª Sisínia, recebe o nome de Escola Florestal e teve início em 1930, já que o senhor Bernardino só manteve a família em Poções durante o ano de 1929. Meu irmão mais velho, Ademar da Rocha Silva, estudou nela em 1937 ou 1938, em regime de semi-internato. Como lembrança dessa escola, só resta a jaqueira que ficava a seu lado!

No final da década de 1940, foi transferida para a Praça de Nova Canaã, Vila cuja fundação ocorreu, oficialmente, no dia 21 de outubro de 1941, quando o Eng. Agrimensor João Batista Júnior entregou, numa solenidade simples, a planta da nova povoação. Eu estava presente, disse meu pai, Laudelino da Rocha Silva.
Quando foi transferida para para a Vila de Nova Canaã, a Escola Florestal passou a ser denominada Instituto Florestal Batista - IFB.

                     Entrevista com Prof. Zirinha - Primeira Diretora do Instituto Florestal Batista

Em 1950 o IFB foi instalado na sua sede definitiva, dotada de uma área de mais de dois hectares. O prédio, monumental para a época, passou a não atender à demanda. No início dos 1960 foi iniciada a construção de um novo edifício, num terreno do outro lado da Praça Leovegildo Matos. Esse prédio foi concluído, quando eu estava diretor, em meados dos anos 1970. Na década de 1990 foram construídas novas instalações ao fundo do edifício principal.

Cheguei ao Instituto Florestal Batista - IFB em 1954. Cursei do 1º ao 5º ano primário, cuja conclusão se deu em 1958.

Segundo registro em Ata da Igreja Batista, em 1955 nasce o sonho de implantar em Nova Canaã, um Ginásio. Em 1957 a ideia começa a se materializar. A iniciativa partiu do odontólogo, Dr. Jesiel Norberto, do Pastor Jezimiel Norberto e das Professoras: Noeme Martins Matos, Marlu Lindoso Norberto, Ruth Couto de Almeida Aranha.

Conscientes de que a Igreja Batista não teria condição de, sozinha, manter um Ginásio, foi feita uma reunião onde todas as famílias da comunidade, independente de opção religiosa, foram convidadas. Nesta reunião foi decidido que uma entidade seria criada com a finalidade de manter o Ginásio. Nasce, então, a SOCIEDADE EDUCADORA GINÁSIO FLORESTAL- SEGF.



 Zilton com uniforme do Ginásio Florestal
No Estatuto da mantenedora reza que a Igreja Batista passaria todo o patrimônio para a SEGF com a condição de que fosse utilizado, exclusivamente, para fins educacionais. Se, por ventura, as instalações deixassem de ser utilizadas como estabelecimento educacional, todo o patrimônio voltaria, automática e definitivamente para a propriedade e domínio da Igreja Batista.

Durante o ano de 1958, os professores citados começaram, pois, a providenciar a documentação para a instalação do Curso Ginasial em Nova Canaã. Todas as formalidades exigidas pela Seccional do Ministério da Educação, na Bahia, foram atendidas.

 Em janeiro de 1959, prestamos o exame de Admissão. Foi um momento solene. Veio, de Salvador, um inspetor do Ministério da Educação, Dr. Otoniel Moura, para assistir à realização das provas. Professoras elegantemente vestidas, Dr. Jesiel, o Pastor e Dr. Otoniel engravatados. E nós todas e todos, nervosos, mãos suando, coração batendo acelerado, aguardando o Ponto que seria sorteado para a prova de cada disciplina. A tensão durou coisa de cinco dias.

Em março começaram as aulas. O uniforme das meninas era saia azul marinho, blusa branca, escudo no peito com as iniciais do Ginásio Florestal - GF e gravata azul marinho com listras brancas indicando a série que a pessoa estava cursando.  A farda dos homens era caqui com gravata preta e o escudo GF bordado no bolso. No braço esquerdo do uniforme as listas brancas indicando a série.

Uma professora ou professor para cada matéria. Não mais uma professora para cada série como acontecia no Curso Primário.

Chegam os livros didáticos. Canaã, através de nós, estabelecia os primeiros contatos com Latim,  Francês , Inglês, Canto Orfeônico, Trabalhos Manuais etc.

No segundo ano de funcionamento do ginásio, 1960, a Vila ficou mais movimentada. Passou a atrair alunos de Iguaí (que só foi ter ginásio em 1961) e do Distrito de Itajaí.

Além da quadra de chão batido que já possuía, com a fundação do Ginásio o Diretor, Pastor Jezimiel Norberto,  mandou construir um galpão coberto, caixa de areia e barras para a prática de Educação Física.

Em 1962, o Pastor conseguiu que a empresa que estava construindo a estrada Poções/Ponto do Astério cedesse as máquinas para construir o campo de futebol do nosso Ginásio. Gente de todas as idades ia ver o morro sendo aplainado. Exultantes, pensávamos, o Ginásio Florestal vai ter o seu próprio estádio!

1962 – PRIMEIRA TURMA DE CONCLUINTES DO GINÁSIO EM CANAÃ

Fui da última turma a concluir o Curso Primário com solenidade, gravata, paraninfo etc. O Paraninfo foi Dr. Madureira, médico que atuava em Iguaí. A oradora da turma foi Stela Gleide Monteiro. As meninas elegantemente vestidas de branco e nós, os homens, de terno branco e gravata preta. Foi a primeira vez que vesti um terno!
Concluintes do Curso Primário 1958. 
Da esquerda para direita.
Mulheres: Ivone, Nilzete, Hilda, Áurea e Stela.
Homens: Fernando, Emanuel, Carlos, Gilson e Zilton
Na foto faltam dois colegas - Jairo Gonçalves da Paz, que fora meu colega desde o 1º ano e Dilene Melo, que só fez o 5º ano em Canaã. Ele foi para Salvador e ela para Jaguaquara, prestar o Exame de Admissão ao Ginásio. Com a criação do Ginásio, Jairo voltou e fez até a 4ª série conosco.

Houve a Festa da Saudade evento que tinha como finalidade a turma se despedir dos colegas e dos professores. Nesta, o orador foi Fernando Eleodoro.

Com a fundação do Ginásio, o glamour passou a ser a conclusão da 4ª série ginasial. Pois lá estava eu como concluinte da primeira turma do Ginásio Florestal!


Concluintes do Curso Ginasial - 1962

GRANDE SOLENIDADE DOS PRIMEIROS CONCLUINTES DO CURSO GINASIAL

Nova Canaã havia conquistado sua emancipação política através da Lei nº 1.540 de 8 de novembro de 1961. 

 Lei nº 1.540 de 8 de novembro de 1961. 
Todavia a eleição do primeiro prefeito e dos primeiros vereadores havia ocorrido no mês de outubro de 1962, momento em que estávamos concluindo o Ginásio. A cidade estava vivendo momentos de efervescência. Nosso Paraninfo foi Dr. Jesiel Norberto. O Patrono foi o senhor Leovegildo Matos. O orador oficial da turma foi Flordenísio Sampaio.

Chorei muito nesse dia. Minha irmã, que era nossa colega até o início da 3ª série, em 1961, quando foi detectado que tinha um câncer na região do omoplata. Teve que abandonar o curso. Foi para Belo Horizonte se tratar e não voltou mais a estudar. No dia da solenidade o Diretor, Pastor Jezimiel, colocou uma cadeira vazia entre nós concluintes. Quando ele começou a abrir o evento e falar que a cadeira estava ali de propósito etc etc. 


Quando percebi que era uma homenagem a Valdíria, desabei em pranto como nunca havia acontecido em minha vida. O fato veio de maneira muito inusitada para mim. Fui apanhado de surpresa e não segurei minha emoção! Sua morte aos 15 anos abalou muito a turma e os professores que a homenagearam colocando sua foto entre as deles.


Professores e homenageados dos concluintes
do Ginásio Florestal 1962
Houve a famosa Festa da Saudade. Fernando, novamente, foi o orador como fora da conclusão do Primário.

Nós éramos os primeiros egressos do Florestal que partíamos em busca de novos horizontes, em outras plagas! Viveríamos um novo momento em nossas vidas de estudantes que Canaã já não nos podia oferecer. Acho que eu fui o que alçou o voo mais longo. Conheci e imediatamente entrei num aviãozinho em Vitória da Conquista e parti. Destino? A casa de minha cunhada Leusa e meu irmão Valdir, em Belo Horizonte.

O PRESENTE PARA A BIBLIOTECA

Nossa turma deixou como legado e lembrança uma coleção para a Biblioteca do Ginásio. A obra foi Os Titãs. Titãs da música, da Literatura... No primeiro volume está a dedicatória e a assinatura de todos nós. Várias outras turmas mantiveram a tradição.

MEU RETORNO PARA A BAHIA

Fui para Belo Horizonte e de lá para Três Rios (RJ) trabalhar numa fábrica de vagões no início de 1964. Meses depois me transferi para o Rio de Janeiro. No final de 1967, convidado por Fernando, voltei para a Bahia e fui ser, em 1968, professor de História do Colégio Batista Conquistense, em Vitória da Conquista e comecei a fazer Pedagogia em Teófilo Otoni-MG.

Normélia e eu íamos casar e morar em Conquista. No final de 1968 recebi convite da Profª Noeme, Diretora do Ginásio Florestal e de Jovan Matos, Presidente da mantenedora, para trabalhar no Florestal. Nos casamos em janeiro e em março passei a dar aulas de História e Geografia, dirigir os cursos noturnos e auxiliar a Profª Noeme na direção do Ginásio. Normélia já havia voltado, após concluir o Curso Normal, há dois anos. Na reunião que formalizou o convite, brincaram – “ao invés de perder uma professora para Conquista achamos melhor trazer um professor para Canaã.” Assim, meu destino se une, mais uma vez, ao do Florestal!

O CONVÊNIO COM A SECRETARIA DE EDUCAÇÃO E CULTURA – SEC DO ESTADO

Conforme mostrei foi criada uma entidade que seria a mantenedora do Ginásio. Portanto o Ginásio Florestal era uma instituição privada. No primeiro ano, como só havia uma turma de primeiro ano ginasial, o que era arrecadado através da pequena anuidade paga pelos pais, não era suficiente para cobrir todas as despesas de custeio (material didático, limpeza etc) e pagar os professores. Estes trabalharam um ou dois anos sem remuneração ou recebiam algo muito simbólico. Foi uma questão de compromisso, de altruísmo daquele grupo de fundadores que merece ter seus nomes reiterados aqui: NOEME MARTINS MATOS, RUTH COUTO DE ALMEIDA ARANHA, MARLU LINDOSO NORBERTO, ABIGAIL NORBERTO MATOS, BELQUICE MATOS DOS SANTOS, JEZIMIEL NORBERTO DA SILVA E JESIEL NORBERTO DA SILVA.

Entrevista com Jezimiel Norberto da Silva - Primeiro Diretor do Ginásio Florstal

Entrevista com Jezimiel Norberto da Silva - Primeiro Diretor do Ginásio Florestal

O Ginásio funcionou como instituição privada, até 1970. Quando voltei para Canaã, a direção da mantenedora e os professores me disseram que haviam pensado em transformar o Florestal num colégio Cenecista, ou seja, incorporá-lo à rede de escolas da CNEC – Campanha Nacional de Escolas da Comunidade. Mas desistiram da ideia porque souberam que muitas estavam enfrentando sérios problemas. A CNEC estava enfrentando dificuldades para manter sua rede.

É bom registrar que o próprio poder público à época, nos três níveis: Federal, Estadual e Municipal, passou a incentivar as escolas COMUNITÁRIAS porque as famílias pagavam uma taxa e assumiam a responsabilidade pela escola. O ente público mandava algum recurso mas não assumia como DEVER oferecer educação pública, gratuita e de qualidade às nossas crianças e adolescentes.

Não é à toa que, apesar de o Brasil ser a maior economia da América do Sul, sempre perdeu e ainda perde para a maioria dos países do subcontinente em anos de escolaridade de sua população. E dentro do Brasil, a Bahia, historicamente, figurou com os piores índices entre as unidades da Federação.

Em 2007, quando eu ainda estava na Assembleia Legislativa, o Ministro da Educação veio lançar a campanha Brasil Alfabetizado aqui no nosso Estado porque era, conforme afirmou, “o que hospedava o maior número de analfabetos absolutos do País.” Os números oficiais giravam em torno de 2.300.000 analfabetos. É bom frisar que até o início do século XXI a Bahia, que possui a quarta maior população entre os estados, só possuía uma Universidade Federal. Está com seis e ainda precisa brigar por outras, pois somos um estado grande e pobre com dois terços do seu território no semiárido. Minas Gerais já deve estar na 13ª Universidade Federal.

É por isso que Nova Canaã se destaca. Num país onde a educação sempre foi negligenciada, fundar um Ginásio numa Vila nos anos cinquenta, foi um acontecimento extraordinário! Para caracterizar o nosso atraso e o abandono que a aristocracia brasileira impôs ao nosso povo, basta lembrar que a primeira UNIVERSIDADE fundada na América foi a Universidad Autônoma de Santo Domingo, na República Dominicana, em 1538, enquanto a PRIMEIRA Universidade brasileira só nasce no século XX! Daí o meu respeito pelos meus professores. Trabalharam até de graça para ver os jovens da sua comunidade avançarem nos estudos. Eu, inclusive.

Pois bem, conversando com colegas de Conquista eles me disseram que trabalhavam em colégios particulares que tinham CONVÊNIO com a Secretaria de Educação do Estado – SEC. O convênio consistia no seguinte: A SEC contratava professores para lecionar no colégio e, para cada professor contratado a escola dava 20 bolsas para alunos carentes. Pensei que essa poderia ser uma solução para o nosso Florestal. Conversei com a direção da sociedade mantenedora, convocamos uma assembleia que autorizou procurar a Secretaria de Educação para tomar as informações detalhadas sobre os termos do Convênio. O ano era 1970. Vim a Salvador, conversei com o professor responsável pela celebração de convênios, que me informou as condições estabelecidas pela SEC e a relação de documentos necessários. A mantenedora aprovou e nós providenciamos tudo e, em 1971, tivemos oito professores contratados pela SEC e assumimos o compromisso de distribuir 160 bolsas, ou seja, vinte bolsas por professor contratado. Mais de dois terços dos alunos matriculados no curso ginasial, em 1971, tiveram bolsa.

Comunicamos às diretoras das escolas primárias do município que orientassem as famílias das alunas e alunos da 4ª série primária a procurar o Ginásio Florestal a fim de inscreverem seus filhos para prestarem o Exame de Admissão que nós conseguiríamos bolsas para todas e todos eles. Foi graças a esse Convênio que fizemos o número de alunos do Florestal saltar de cento e tantos para mais de quatrocentos, quando Normélia e eu nos mudamos para Salvador, em 1979. Como exemplo cito Dona Ester Pacheco que teve oito filhos matriculados simultaneamente no Colégio. Acho que ainda ocupa o Guinness do Florestal!

Criar um Ginásio numa Vila nos anos 1950 foi uma coisa grandiosa, extraordinária!  Mas Canaã  sonhou dar voo ainda mais alto. No final de 1967, quando eu já estava de volta à Bahia, participei de uma reunião na casa da Profª Noeme, em que foi discutida a criação do Curso Técnico de Contabilidade mantido pela mesma entidade que aprovou a proposta. Em 1968 já foi iniciada a primeira série e o nome escolhido foi Escola Técnica de Contabilidade Manoel Novaes, homenageando um deputado muito conhecido no município. Funcionava à noite e Normélia ficou como secretária e responsável pelo turno.

Entre 1970 e 1971 começamos a discutir e amadurecer a ideia de dar mais um salto – criar o Curso Normal, para que pudéssemos formar docentes habilitados para o magistério primário, uma vez que a maioria das professoras e professores das escolas municipais eram leigas e leigos. Aprovada pela Assembleia da Sociedade Educadora Ginásio Florestal, criamos a Escola Normal Noeme Martins Matos. No início de 1972 matriculava-se a primeira turma do Curso Normal em Canaã.

Antes eu vim à Secretaria de Educação do Estado dizer que nós precisávamos dar bolsas não só para alunos do Curso Ginasial, mas também para os do Curso de Contabilidade e do Curso Normal. Conversando com o professor responsável pelo setor de Convênios, ele me perguntou – “quem mantém cada um desses cursos?”

Expliquei que a mantenedora era a mesma. Ele disse: “Por que vocês não transformam em Colégio e escolhem um dos três nomes para a instituição?”

Voltei, expliquei à Profª Noeme, homenageada com o nome da Escola Normal, e ela foi a primeira a achar que o nome do colégio tinha que ser o nome histórico, original. Convocamos uma Assembleia da mantenedora para decidir a questão. Foi assim que a instituição composta pelo Curso Ginasial, Curso Normal e Curso Técnico de Contabilidade virou Colégio Florestal em respeito ao nome original vindo da escola fundada pelo senhor Bernardino Matos na sua Fazenda Floresta, na década de 30. 

Em decorrência da transformação da instituição em Colégio, em Assembleia, os sócios da mantenedora retiraram a palavra Ginásio do seu nome passando a denominá-la apenas de SOCIEDADE EDUCADORA FLORESTAL.

Tudo que escrevi o fiz de memória. Algumas informações podem apresentar alguma imprecisão que, posteriormente, se possível, corrigirei. Contudo, a minha intenção em divulgar esse texto sobre o FLORESTAL, é tentar jogar alguma luz sobre a discussão que desencadeou com a ideia maluca de fechá-lo.

Quando ocupei a Presidência do Tribunal de Contas do Estado da Bahia, durante visita que me fez, o Ouvidor da Secretaria de Educação do Estado, Prof. Francisco Neto me informou que tinha como norma visitar unidades escolares do Estado, com o objetivo de proporcionar à  comunidade escolar (professores, alunos, pais, funcionários etc) espaço para apresentar reivindicações, apontar problemas enfrentados por cada segmento escolar, anotar as solicitações e reivindicações e, posteriormente, tentar resolver completamente ou minimizar os problemas.

Ante essa informação, disse-lhe que se escolhesse o Colégio Florestal para ser visitado, me comunicasse que eu ia pedir ao Ouvidor do TCE para participar do evento, levar um vídeo que produzimos explicando o papel do Tribunal de Contas estimulando as cidadãs e cidadãos a aplicarem, na prática, sua cidadania, fiscalizando, denunciando possíveis desvios etc, em defesa do erário, cujos recursos advêm do esforço e do suor de todos. Adiantei que, exceto que compromissos inadiáveis da Presidência me impedissem, que eu iria, pessoalmente, participar da Audiência para prestigiar a instituição onde estudei e trabalhei. A visita ocorreu em dezembro de 2013. Estavam presentes a Coordenadora da DIREC (hoje Núcleo) de Itapetinga, sede da jurisdição de Canaã, os Ouvidores da SEC e do TCE. Levei-os para visitar as instalações do meu inesquecível Florestal, aquele que, como disse o poeta – “Me deu régua e compasso”. Confesso que fiquei desolado. As instalações físicas completamente degradadas, o auditório sem assentos, uma lástima.

Quando, há poucos dias, apareceu nas redes sociais a notícia do fechamento do Colégio, fiquei estarrecido. O Ouvidor da SEC estava presente na cidade e não foi organizada uma reunião com participação das autoridades municipais, direção do Colégio, representação de docentes, de estudantes e de pais para apresentar a situação, apontando as causas do estado de abandono e cobrando providências para saná-las. Eu estaria presente para, também, cobrar solução para os aludidos problemas. Nada disso aconteceu. Havia muito poucos alunos e professores. Nenhuma reunião foi solicitada, nada. Daí o meu espanto com o anúncio do fechamento.

Espero que a comunidade reaja em tempo e à altura da gravidade da situação, para que se possa encontrar o caminho que, historicamente, o Florestal sempre trilhou. E não basta apenas o compromisso do governo de não fechar o Colégio. Muita coisa vai ter que ser feita e urgente. Alunos, professores, funcionário, pais precisam receber a solidariedade, o apoio e, sobretudo, o envolvimento, o arregaçar das mangas de todas e todos que têm compromisso, responsabilidade e amor ao velho Floresta para que ele continue cumprindo seu papel de templo do saber e da cultura na nossa cidade.

Quando Jovan foi prefeito eu fui vereador. Lembro-me que discutimos a possibilidade de municipalizar o Colégio. Como discutíamos abertamente as questões, chegamos à conclusão, e eu fui defensor dessa tese, de que ou estadualizava ou era melhor manter particular com Convênio com o Estado, através da SEC, do que municipalizar. Tínhamos certeza de que o município não teria musculatura financeira para manter as escolas primárias da sede e do interior e ainda bancar um colégio. Sendo particular a gente podia cobrar a pequena anuidade dos pais que pudessem pagar, dar bolsas completas para quem não pudesse arcar com nada e cobrar pequenas taxas daqueles que pudessem contribuir um pouco. Era com esse dinheiro arrecadado dos pais que adquiríamos material didático, garantíamos a limpeza, pagávamos os funcionários, da direção, secretaria, coordenação ao pessoal de apoio.

Quando numa das minhas passagens por Canaã vi inscrito na faixada – COLÉGIO ESTADUAL FLORESTAL, imaginei que houvessem encontrado a solução definitiva transferindo toda a responsabilidade pela manutenção do Colégio para o âmbito estadual. Este deve ser o caminho natural do seu destino. A Constituição de 1988 não só disse que a educação é um DIREITO, diz mais que é DEVER do Estado assegurá-la a todas brasileiras e a todos os brasileiros.

Conclusão: o Florestal, na minha opinião, não pode fechar e ponto. Seria um absurdo, a cidade possuir um equipamento com aquela estrutura, colocar o ensino médio numa escola que não tem a menor condição estrutural de atender à demanda de um município cuja população voltou a crescer.

Escolas Reunidas Olavo Bilac - dez 2013
 Justiça seja feita, a escola, denominada Escolas Reunidas Olavo Bilac, quando da nossa visita, estava um brinco. Verdadeiro contraste com o Florestal. Tudo limpo, organizado, funcionando. Almoçamos lá, a convite da Profª Elenita Amorim. Aliás, os depoimentos sobre a atuação de Nita na Direção da escola são os mais respeitosos e de reconhecimento ao seu esforço e amor pela educação dos jovens de Canaã.


Possíveis, alunos, pais, professores e funcionários reconhecem o seu esforço visando a melhoria da instituição e, sobretudo, à forma decente, acolhedora que dispensa aos estudantes. Logo, defender o Florestal não significa condenar o Olavo Bilac. Pelo contrário, ele tem que continuar uma escola de Ensino Fundamental e espero que tenha vida longa.
Bernardiano Rodrigues de Mattos

Concluo afirmando que o Florestal é mais que uma marca física no território canaense. Ele é símbolo de valores intangíveis, construídos ao longo do tempo por gerações e mais gerações. Se eu fosse escolher uma personalidade para representar a todos que por ele passaram como fundadores, professores, funcionários, pais e, sobretudo alunos, escolheria o seu idealizador – BERNARDINO RODRIGUES DE MATOS.














ESSE COLÉGIO, POIS, NÃO É APENAS UM SÍMBOLO, É TAMBÉM UM MARCO, UM FACHO QUE ESPARRAMA LUZ DESDE SEMPRE SOBRE A HISTÓRIA E A CULTURA DE NOVA CANAÃ. 

VIDA LONGA AO FLORESTAL!


Zilton Rocha – Ex-aluno, ex-Professor e ex-Diretor

Salvador fevereiro de 2016


















































2 comentários:

  1. Depoimento de Zenóbio Vieira Matos

    Oi Zilton,
    Parabéns por este relato detalhado do surgimento e evolução de entidades de ensino em Canaã, principalmente daquela semente que foi lançada por meu pai, Bernardino, que movia montanhas para que seus filhos pudessem estudar, assim como os filhos que nasciam na comunidade de Nova Canaã.
    Lembro-me que comecei a frequentar a escola ainda no prédio construído na fazenda, depois cursei até o terceiro ano primário já no Florestam em Canaã, e em 1953, fui para Conquista onde cursei o quarto ano primário e fiz o Admissão para o ginásio, tendo cursado o primeiro ano de ginásio em Conquista e depois fui para Jaguaquara;
    Pelo seu relato,é lamentável que o Colégio Florestal esteja passando por tanta dificuldade.
    Sua homenagem ao visionário Bernardino Rodrigues de Matos foi justa e me comove bastante.
    A braço,


    Zenóbio Vieira Matos

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  2. Depoimento de Vivaldo Rocha

    Tenho grandes e carinhosas lembranças do Zilton como nosso Magnífico Professor de Geografia e História, além de mestre de tantas outras coisas da vida de estudante e adolescente de uma pequena cidade do interior. Além de achar fantástico na época o fato de ele ler um parágrafo que fosse, de um trecho das matérias, e discorrer magistralmente pelos próximos 45 min restantes da aula.

    Me recordo também, com muita gratidão, o fato de ele ter me introduzido no maravilhoso universo da leitura que sempre cultivei e agora, com mais idade e mais tempo, volto a me dedicar ainda mais intensamente. Até porque, como vc sabe, estou estudando, vivendo e me aprofundando no mundo da Filosofia.

    Outra boa lembrança também no primeiro vídeo da mensagem é a música cantado e composta pelo Evanaldo que foi meu grande amigo de infância onde, além de milhões de experiência vividas conjuntamente, houve o aprendizado do violão.

    Sds e muito obrigado pelo belo presente.

    Vivaldo

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