Idealização e Produção - Zilton Rocha e Fernando Matos
HISTÓRIAS DE ZÉ BATALHA E O LUBZOMEM DA SAPUCAIA - JOSUÉ VIEIRA, ALBERICO RODRIGUES E LELI
SERIE CAUSO
Entrevista concedida por Josué Vieira a Fernando Martins Vieira Matos, e Noeme Martins Matos na Sapucaia em 15 de fevereiro de 2001; Hélio Rodrigues do Nascimento (Leli) concedida a Zilton Roche e Fernando Matos em 29/10/2015 e trechos de uma entrevista de Alberico Rodrigues publicada pelo Espaço Cultural Alberico Rodrigues a Flash Paulistano dirigido por José Amado Alves.
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Josué Andrade Vieira - Faz Sapucaia - 2001 |
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Alberico Rodrigues - Faz. Poço Redondo - 2007 |
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Hélio Rodrigues (Leli) - Faz. Poço Redondo -2015 |
Zé Batalha – Nascido na região de Amargosa, Bahia, veio para a região da Sapucaia junto com os primeiros moradores em 1915. Descendente de escrava com um patrão branco, teve um início de vida, na região, como trabalhador rural e de repente foi perdendo a sanidade mental e ficou vagando pelas matas e pela cidade de Nova Canaã. Foi um doido muito respeitado e temido pelas crianças devido ao seu porte físico e seu aspecto assustador. Andava sempre com uma cachorrinha e um macaco no ombro e tinha uma habito de beber os remédios Saúde das Mulheres e Biotômico Fontoura. A sua história foi transformada em literatura por Alberico Rodrigues, morador da Fazenda Poço Redondo na região da Sapucaia. Josué relata um episódio de um encontro com um Lobisomem, que foi revelado pelo próprio Zé Batalha como um encanto que ele fazia para se transformava nessa fera nas noites de lua cheia.
Nessa entrevista Leli, Alberico e Josué contam a história de Zé Batalha, suas origens, sua sina, sua trajetória de vida transformada em romance e seus encantos quando virava Lobisomem na região da Sapucaia. Três relatos autênticos de uma grande figura que habitou o consciente e o inconsciente de várias gerações de meninos que moravam na Sapucaia e na Cidade de Nova Canaã, entre as décadas de 50 e 80.
Segue trechos da saga de Zé Batalha narrado por Josué Vieira, na entrevista anexa:
Eu vir um Lobisomem aqui na Sapucaia. Eu vi. O doutor Jesiel Norberto da Silva, queria que eu matasse, mas um cara de Conquista me falou para não matasse não que o tio dele tinha matado um. Aparecia um bicho preto aqui e todo mundo via, quando foi um dia esse bicho apareceu aqui em casa. Tinha feito farinha e beiju até a meia noite, arrumamos tudo no alguidar, trouxemos alguns bijus para dentro de casa e fechamos a casa de farinha. E quando eu sair, já tinha lavado os pés e trocado o pijama para ir para cama, os cachorros botaram o pau para dentro, latindo sem parar. Eu tinha tirado uma vara, para dar uma surra em um jegue que estava viciado roubando mandioca na casa de farinha. Eu sair para fora e abrir a porta para ver o que os cachorros estavam latindo. Quando eu abrir a porta estava aquele bicho preto deste tamanho assim (marca com a mão na direção de seu ombro). Não era um cachorro, tinha as cadeiras baixas e as mãos altas. Aquele bichão preto, no terreiro rodando se sacudindo assim parecia que estava cheio de latinhas com pedra dentro fazendo assim tetetetettete... tetetetett..., e ele rosnava raum, raum, raum..., chegava a estremecer o chão. Eu fui no canto para apanhar a vara, cadê a avara a vara, não estava no canto. Aí o bicho passou para frente e eu fique de frente com ele. Se eu estivesse com uma espingarda eu tinha matado o Lobisomem. Quando eu percebi era o Zé Batalha, você lembra dele. Ele virava aquele bicho pelo avesso. Um dia um menino viu ele virando Lobisomem e gritou Otávio, e o Otávio veio vindo chegou e Zé Batalha tinha desaparecido. Zé Batalha correu por esse mundo todo, eu dei um jeito e sair da porta voltando para dentro da casa para pegar a minha espingarda para matar o bicho. Ele viu que iria pegar a espingarda e sai correndo, com os cachorros correndo atrás e latindo muito.
No outro dia os cachorros chegaram com a cara enxada, precisando botar água de sal para curar os inchaços. Um ver daqui outra dali, quando um certo dia Nau vinha com um fusca, naquela curva, e Nau desviou e passou de lado. Eu perguntava ao pessoal como é, mato ou não mato esse bicho? Deram a ideia que era para nos pegarmos, mas com é que pega? Mas eu não sabia que era ele.
Zé Batalha min respeitava muito, as vezes ele falava que eu estava botando os cachorros nele, e eu respondia que não era verdade. Um certo dia eu o chamei e lhe perguntei: Ou Zé esta parecendo um bicho assim, assim. As vezes os meninos vão comprar açúcar lá na venda e, também, estão vendo esse bicho. O povo diz que é você que esta virando Lobisomem, se for você, você min diz. Que eu quero matar o bicho. Aí ele falou: ou ooooo, não mate não, é eu que estou fazendo uns encantes, você não mata eu não eu não bulo com ninguém. Ele só comia carniça
EDIÇÃO - Fernando Matos
MONTAGEM - CURA FILMES – 2016