segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Depoimento de Zilton Rocha sobre o Projeto História Viva de Nova Canaã

Depoimento de Zilton Rocha sobre o Projeto História Viva de Nova Canaã

Zilton Rocha
Desde os anos setenta comecei a me interessar por registrar fatos, histórias, educação e cultura popular de Nova Canaã. Lá por 1973 ou 1974, comprei um gravadorzinho de fita cassete. Gravei discursos, pila de café, fiz entrevistas, cantorias feitas em casa, sobretudo quando Guilherme aparecia. Pouca coisa sobrou. As fitas se perderam ou eu gravava novos momentos sobre as gravações anteriores.

Na década de oitenta me deparei com Fernando Matos, Cura para os colegas, que havia sido meu aluno de ginásio em Canaã e agora, universitário, também demonstrou interesse pelo assunto.

Em junho de 1987 o Centro dos Estudantes de Nova Canaã – Cenoc, realizou um festival de música na cidade e um colega de meu filho, Fred, que participava com ele de uma banda possuía uma filmadora profissional. Pedi para ele levá-la e combinei com Fernando que aproveitaríamos para fazer uma série de filmagens sobre a vida da cidade, entrevistas com   pessoas, desde cidadãs e cidadãos anônimos a autoridades, professores, artistas populares etc.

Enfrentamos um problema inicial. O dono da filmadora, Fred (Alfredo Oliveira), envolvido com o festival, dormia e acordava tarde. Jovem e estudante de Geologia Fernando foi pegando as “manhas” de como utilizar a câmera. Quando travava, acordávamos Fred para resolver o problema.

Nem Cura nem eu, nunca havíamos estado diante de uma situação como aquela – atuar como câmara man ou entrevistador. Primeiro teste, entrevistar o senhor Manoel Monteiro Costa, meu sogro, em cuja casa Fred estava hospedado. Fui para a função de repórter. Gaguejei um bocado, falava a todo instante é.....é......é..... Mas fizemos o ensaio.

Fernando Martins Vieira Matos
Vencido o primeiro impacto fomos pra rua entrevistar pessoas em bares, colocar populares para cantar, mostrar a feira, e tudo que achávamos interessante registrar. Chegamos até fazer um ensaio improvisado de uma pila de café na Sapucaia, mobilizando antigos piladores de café.
Fernando, estudante, e eu professor, não tínhamos dinheiro para comprar muitas fitas de vídeo cassete. Fred colocou a câmera no modo que grava quatro horas. A sorte é que a câmera dele era profissional, por isso as imagens ficaram boas.

Entusiasmados com os resultados obtidos, nos animamos a continuar fazendo os registros. Convidei Fernando Eleodoro e Edmundo Leal para comprarmos uma filmadora em sociedade. Eles toparam e sempre que Cura e eu íamos de férias para Canaã, realizávamos novos registros. Só que agora com um Panasonic bem amadora, de 160 linhas.

Em Salvador, sempre que descobríamos alguém que tinha relação com o passado de Canaã, fazíamos uma entrevista. Foi assim que entrevistamos o Pastor Jezimiel Norberto, fundador, professor e primeiro diretor do Ginásio Florestal e que foi eleito primeiro prefeito do município em 1962. Ele estava morando nessa época em Fortaleza.

Conseguimos chegar até o Dr. Francisco Peixoto Júnior, prefeito de Poções no início dos anos 1940, quando a Vila de Nova Canaã foi fundada. Localizamos, também, o antropólogo Vivaldo Costa Lima, que atuara na região como odontólogo, entre outros.

A verdade é que não paramos mais de buscar novas informações, entrevistar outras pessoas, colher novos dados. Nos últimos anos fizemos entrevistas com alguns filhos dos primeiros moradores do município. Alguns com idade bem avançada e que, por isso, forneceram informações de alto valor histórico, antropológico, cultural.

Nossa intenção é jogar um pouco de luz sobre a história e a vida cotidiana de um território que até o final do século XIX era ocupado, apenas, pelas civilizações autóctones, os povos originais da América. Ainda dispomos de poucas informações, documentadas, sobre o processo de ocupação daquelas terras pertencentes à Bacia do Gongogi. Por exemplo, como se deu a expulsão ou extermínio das tribos indígenas que ali viviam há milênios.

Só que todo esse conjunto de informações está ficando armazenado, mas sem que ninguém saiba da sua existência. Como Fernando, o velho Cura, não só adquiriu equipamentos de última geração para realizar as filmagens como aprendeu a fazer edição, colocar trilha sonora, legendar etc, pensamos que muita gente, com certeza, gostaria de conhecer esse acervo, ou parte dele, naqueles temas que desperta a curiosidade e o interesse de cada uma pessoa. Esperamos, pois, que tudo que produzimos até agora, seja útil para pesquisadores, estudantes, professores etc que, à luz das informações ali contidas, possam aprofundar estudos, descobrir  novos dados e informações que possam ampliar e aprofundar todo esse conhecimento.

É com esse espírito, estritamente de ordem histórica e cultural que estamos, através deste texto, solicitando às pessoas que deram as entrevistas ou seus descendentes, (no caso daqueles que já não estão mais entre nós), que nos autorizem a divulgação dos referidos conteúdos.
Como disse o poeta:
Um sonho que se sonha só, é só um sonho que se sonha só, mas sonho que se sonha junto é realidade
Raul Seixas

Esperamos que não apenas ampliem seus conhecimentos sobre a história e a cultura de Canaã, mas que, sobretudo, curtam, revejam parentes e se emocionem também!!

Salvador, fevereiro de 2015
Fernando Matos
Zilton Rocha

Observação 1 – Autorizamos o uso de partes desse acervo, desde que para fins lícitos e não comerciais e que seja citada a fonte.

Observação 2 – Para uso de ampla divulgação, não pessoal, restrito, solicitamos que entre, previamente, em contado com os autores explicitando o objetivo.

3 comentários:

  1. Esse Projeto tem como objetivo registrar através de entrevistas e depoimentos, de pessoas que ajudaram a ciar um sonho e uma cidade. Nova Canaã, A TERRA PROMETIDA. Alem de emocionar as pessoas e os familiares com as histórias, as imagens e as falas dos seus ente queridos - esperamos que esse material cumpra o seu objetivo.

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  2. Fantástico muito bom obrigado professor zilton e cura

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  3. É um trabalho excepcional,realizado pelos conterrâneos Zilton,e Cura; rever pessoas que fizeram a história da cidade, e parte das nossas vidas,é gratificante. Parabéns!

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