Depoimento de Zilton Rocha sobre o Projeto História Viva de Nova Canaã
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Zilton Rocha |
Desde os anos setenta comecei a
me interessar por registrar fatos, histórias, educação e cultura popular de
Nova Canaã. Lá por 1973 ou 1974, comprei um gravadorzinho de fita cassete.
Gravei discursos, pila de café, fiz entrevistas, cantorias feitas em casa,
sobretudo quando Guilherme aparecia. Pouca coisa sobrou. As fitas se perderam
ou eu gravava novos momentos sobre as gravações anteriores.
Na década de oitenta me deparei
com Fernando Matos, Cura para os colegas, que havia sido meu aluno de ginásio
em Canaã e agora, universitário, também demonstrou interesse pelo assunto.
Em junho de 1987 o Centro dos
Estudantes de Nova Canaã – Cenoc, realizou um festival de música na cidade e um
colega de meu filho, Fred, que participava com ele de uma banda possuía uma
filmadora profissional. Pedi para ele levá-la e combinei com Fernando que
aproveitaríamos para fazer uma série de filmagens sobre a vida da cidade,
entrevistas com pessoas, desde cidadãs
e cidadãos anônimos a autoridades, professores, artistas populares etc.
Enfrentamos um problema inicial.
O dono da filmadora, Fred (Alfredo Oliveira), envolvido com o festival, dormia
e acordava tarde. Jovem e estudante de Geologia Fernando foi pegando as
“manhas” de como utilizar a câmera. Quando travava, acordávamos Fred para
resolver o problema.
Nem Cura nem eu, nunca havíamos
estado diante de uma situação como aquela – atuar como câmara man ou
entrevistador. Primeiro teste, entrevistar o senhor Manoel Monteiro Costa, meu
sogro, em cuja casa Fred estava hospedado. Fui para a função de repórter.
Gaguejei um bocado, falava a todo instante é.....é......é..... Mas fizemos o
ensaio.
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Fernando Martins Vieira Matos |
Vencido o primeiro impacto fomos
pra rua entrevistar pessoas em bares, colocar populares para cantar, mostrar a
feira, e tudo que achávamos interessante registrar. Chegamos até fazer um
ensaio improvisado de uma pila de café na Sapucaia, mobilizando antigos
piladores de café.
Fernando, estudante, e eu
professor, não tínhamos dinheiro para comprar muitas fitas de vídeo cassete.
Fred colocou a câmera no modo que grava quatro horas. A sorte é que a câmera
dele era profissional, por isso as imagens ficaram boas.
Entusiasmados com os resultados
obtidos, nos animamos a continuar fazendo os registros. Convidei Fernando
Eleodoro e Edmundo Leal para comprarmos uma filmadora em sociedade. Eles
toparam e sempre que Cura e eu íamos de férias para Canaã, realizávamos novos
registros. Só que agora com um Panasonic bem amadora, de
160 linhas.
Em Salvador, sempre que
descobríamos alguém que tinha relação com o passado de Canaã, fazíamos uma
entrevista. Foi assim que entrevistamos o Pastor Jezimiel Norberto, fundador,
professor e primeiro diretor do Ginásio Florestal e que foi eleito primeiro
prefeito do município em 1962. Ele estava morando nessa época em Fortaleza.
Conseguimos chegar até o Dr.
Francisco Peixoto Júnior, prefeito de Poções no início dos anos 1940, quando a
Vila de Nova Canaã foi fundada. Localizamos, também, o antropólogo Vivaldo
Costa Lima, que atuara na região como odontólogo, entre outros.
A verdade é que não paramos mais
de buscar novas informações, entrevistar outras pessoas, colher novos dados.
Nos últimos anos fizemos entrevistas com alguns filhos dos primeiros moradores
do município. Alguns com idade bem avançada e que, por isso, forneceram
informações de alto valor histórico, antropológico, cultural.
Nossa intenção é jogar um pouco
de luz sobre a história e a vida cotidiana de um território que até o final do
século XIX era ocupado, apenas, pelas civilizações autóctones, os povos
originais da América. Ainda dispomos de poucas informações, documentadas, sobre
o processo de ocupação daquelas terras pertencentes à Bacia do Gongogi. Por
exemplo, como se deu a expulsão ou extermínio das tribos indígenas que ali
viviam há milênios.
Só que todo esse conjunto de
informações está ficando armazenado, mas sem que ninguém saiba da sua
existência. Como Fernando, o velho Cura, não só adquiriu equipamentos de última
geração para realizar as filmagens como aprendeu a fazer edição, colocar trilha
sonora, legendar etc, pensamos que muita gente, com certeza, gostaria de
conhecer esse acervo, ou parte dele, naqueles temas que desperta a curiosidade
e o interesse de cada uma pessoa. Esperamos, pois, que tudo que produzimos até
agora, seja útil para pesquisadores, estudantes, professores etc que, à luz das
informações ali contidas, possam aprofundar estudos, descobrir novos dados e informações que possam ampliar
e aprofundar todo esse conhecimento.
É com esse espírito, estritamente
de ordem histórica e cultural que estamos, através deste texto, solicitando às
pessoas que deram as entrevistas ou seus descendentes, (no caso daqueles que já
não estão mais entre nós), que nos autorizem a divulgação dos referidos
conteúdos.
Como disse o poeta:
Um sonho que se sonha só, é só um sonho que
se sonha só, mas sonho que se sonha junto é realidade
Raul Seixas
Esperamos que não apenas ampliem seus
conhecimentos sobre a história e a cultura de Canaã, mas que, sobretudo,
curtam, revejam parentes e se emocionem também!!
Salvador, fevereiro de 2015
Fernando Matos
Zilton Rocha
Observação 1 – Autorizamos o uso
de partes desse acervo, desde que para fins lícitos e não comerciais e que seja
citada a fonte.
Observação 2 – Para uso de ampla
divulgação, não pessoal, restrito, solicitamos que entre, previamente, em
contado com os autores explicitando o objetivo.
Esse Projeto tem como objetivo registrar através de entrevistas e depoimentos, de pessoas que ajudaram a ciar um sonho e uma cidade. Nova Canaã, A TERRA PROMETIDA. Alem de emocionar as pessoas e os familiares com as histórias, as imagens e as falas dos seus ente queridos - esperamos que esse material cumpra o seu objetivo.
ResponderExcluirFantástico muito bom obrigado professor zilton e cura
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ResponderExcluirÉ um trabalho excepcional,realizado pelos conterrâneos Zilton,e Cura; rever pessoas que fizeram a história da cidade, e parte das nossas vidas,é gratificante. Parabéns!